Risos na Madrugada e Camas Que Derrubam: Os Ecos Infantis do Hospital Barão de Lucena

Recife, madrugada. Em um dos hospitais mais movimentados e históricos da capital pernambucana, relatos discretos percorrem os corredores como sussurros entre turnos de plantão. No Hospital Barão de Lucena (HBL), há quem diga que o repouso nunca é realmente seguro. Entre cochilos curtos e o silêncio antes do primeiro paciente chegar, surgem histórias que resistem ao tempo - e que parecem ignorar a lógica do mundo moderno.

Enfermeiras, técnicos, funcionários da limpeza. Gente calejada, acostumada com a dor humana e com a proximidade da morte, contam sobre uma experiência nada técnica: durante a madrugada, ao repousar por alguns minutos em leitos de consultórios vazios, muitas dessas pessoas foram, misteriosamente, derrubadas da cama como se uma força invisível as expulsasse dali. Em alguns casos, isso era acompanhado de gargalhadas infantis que ecoavam pelos corredores escuros da ala hospitalar.

Há quem diga que são apenas alucinações hipnagógicas - aquelas que ocorrem entre o sono e a vigília. Outros, no entanto, afirmam com convicção: há algo ali que não se explica por teorias científicas.

Entre o descanso e o abismo: o hospital como zona de liminaridade

Na psicologia junguiana, os hospitais são espaços de transição entre estados: da doença para a cura, da vida para a morte. Jung chamaria esse local de “liminar” - um entre-lugar onde o inconsciente coletivo pode manifestar seus símbolos mais profundos. E o que é mais arquetípico do que o riso de uma criança onde só deveria haver silêncio e repouso?

As risadas não são apenas perturbadoras por serem deslocadas - elas trazem à tona a figura do “infans”, o arquétipo da criança eterna, que em muitas culturas representa tanto o começo da vida quanto a memória ancestral do abandono, do trauma e da inocência interrompida.

Na mitologia, não são raros os relatos de espíritos infantis que vagam em locais de dor. Em tradições japonesas, por exemplo, as almas de crianças não batizadas - os zashiki-warashi - são conhecidas por fazerem travessuras, puxar cobertas ou provocar quedas. Já no Brasil, a herança católica e afroindígena transformou muitas dessas manifestações em figuras como o "Menino do Pé Inchado" ou "o Moleque Travesso dos terreiros", cuja função simbólica é, paradoxalmente, assustar e proteger.

A sociologia da invisibilidade: repouso negado e a presença do inominável

Do ponto de vista sociológico, esses relatos também dizem muito sobre a precariedade das condições de trabalho. Técnicos de enfermagem e equipes da limpeza nem sempre tiveram - ou têm - direito a repouso digno, e o uso improvisado de leitos médicos como abrigo temporário revela a fragilidade estrutural de uma categoria essencial, mas muitas vezes invisível.

Dessa forma, a “queda da cama” pode ser lida também como um ato simbólico de expulsão, como se o próprio espaço dissesse: “aqui você não pertence”. E se isso se repete entre várias pessoas, em diferentes turnos, com relatos semelhantes... talvez estejamos diante não só de uma entidade sobrenatural, mas de um clamor coletivo por reconhecimento e dignidade.

Ecos que não se calam: riso, medo e resistência

Ainda que nunca registrados formalmente em prontuários, os risos noturnos do HBL continuam sendo lembrados em rodas discretas, principalmente entre os mais antigos da casa. Aqueles que já ouviram, dificilmente esquecem. Aqueles que nunca ouviram, têm medo de ouvir.

Será apenas o cansaço? Um surto psicossensorial? Ou o hospital guarda, em sua arquitetura e em seus silêncios, resíduos emocionais de crianças que ali passaram e jamais partiram por completo?

Talvez nunca saibamos. Mas há algo que permanece: o som de um riso infantil às três da manhã é capaz de transformar qualquer hospital em um filme de terror. Só que, nesse caso, sem trilha sonora. Sem efeitos especiais. Apenas medo e memória se entrelaçando em cada quarto escuro.

Você já ouviu risos onde não deveria haver nenhuma criança? Já foi acordado como se alguém invisível o empurrasse da cama? Compartilhe sua experiência nos comentários. Quem sabe você também tenha cruzado com os ecos do Barão de Lucena.


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