As Vozes Invisíveis do Shopping Recife: Ecos de Multidões ou Assombração Coletiva?

 O Shopping Recife, em Boa Viagem, é um dos maiores centros comerciais do Nordeste. Aberto em 1980, tornou-se não apenas um espaço de consumo e lazer, mas também um ponto de encontro da vida urbana, pulsante e sempre movimentado. Porém, longe do barulho das escadas rolantes e das lojas cheias, um fenômeno estranho assombra funcionários que chegam cedo para abrir suas lojas: o som de multidões invisíveis.

Entre 2016 e 2019, a funcionária Íris, que trabalhava em uma gelateria italiana no local, relatou um episódio inquietante. Por diversas vezes, ao chegar antes da abertura do shopping, atravessando o corredor silencioso, ela ouvia nitidamente o burburinho de centenas de pessoas conversando, como se o lugar estivesse lotado. Não conseguia distinguir palavras, apenas vozes sobrepostas, como o ruído abafado de uma feira ou estádio. O mais perturbador? O fenômeno era recorrente, especialmente aos sábados, e não se tratava de uma experiência isolada: outros funcionários também confirmaram ouvir as mesmas vozes.

O som que vem do vazio: memória acústica ou fenômeno paranormal?

A psicologia sugere que a mente humana pode projetar sons em ambientes de silêncio absoluto, especialmente quando se está em estado de alerta. O fenômeno, conhecido como pareidolia auditiva, faz com que ruídos ambientes (como o ar-condicionado, vibrações ou até a ressonância estrutural do prédio) sejam interpretados como vozes.

Por outro lado, do ponto de vista da antropologia do imaginário, é impossível ignorar o simbolismo dos espaços coletivos. Shoppings são os templos modernos do consumo, equivalentes, em termos sociais, às antigas praças e feiras. O som de multidões invisíveis poderia ser lido como uma assombração acústica, em que o espaço “guarda” o eco de sua função principal: reunir pessoas.

Ecos do além ou arquétipos modernos?

O relato também pode ser lido à luz da psicanálise junguiana, que interpreta fenômenos assombrosos como manifestações do inconsciente coletivo. As “vozes” seriam arquétipos do burburinho social, uma sombra da coletividade que insiste em se fazer ouvir mesmo quando o espaço está vazio.

Mitologicamente, existem paralelos fascinantes. Na tradição celta, acreditava-se em “Ecos do Outro Mundo”, ruídos de batalhas ou festividades que ressoavam em lugares vazios, como se o tempo se sobrepusesse. Já no folclore brasileiro, histórias de vozes misteriosas em igrejas, teatros e prédios históricos abundam — sons de procissões invisíveis, rezas fantasmagóricas ou multidões que nunca estão lá.

Entre o real e o sobrenatural

O caso das vozes no Shopping Recife nos obriga a refletir sobre como interpretamos o invisível. Estaríamos diante de um fenômeno psicológico explicado pela sugestão e pelo ambiente silencioso? Ou haveria, de fato, ecos de algo que ultrapassa o tempo e a lógica material, como uma marca energética deixada por milhões de pessoas que, diariamente, ocuparam aquele espaço?

Assim como teatros antigos carregam histórias de fantasmas de atores e plateias, talvez os shoppings — esses templos modernos da vida urbana — também possam ser assombrados, não por figuras humanas, mas por aquilo que mais os caracteriza: o som incessante da multidão.

E você, acreditaria que um espaço pode reter os ecos das pessoas que por ele passaram? Ou diria que tudo não passa de uma ilusão auditiva criada pelo silêncio?

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