ATENÇÃO: Esse relato nos foi enviado por Bárbara, no nosso canal LENDAS E CAUSOS DE PERNAMBUCO, no Youtube.
O relógio marcava três da manhã — a chamada "hora morta", momento liminar entre o mundo dos vivos e o dos mortos, onde, segundo diversas culturas, o véu que separa as dimensões se torna mais tênue. Foi exatamente nesse horário que Bárbara, então moradora de Caruaru, agreste de Pernambuco, viveu uma experiência que a acompanha até hoje, como uma cicatriz invisível entre a memória e o mistério.
Ela voltava de uma festa, sozinha, caminhando por uma pracinha por onde era obrigada a passar. À distância, viu um homem alto, moreno, vestido todo de branco e com um chapéu que lhe cobria parte do rosto. Ele estava de cabeça baixa. Bárbara sentiu um arrepio involuntário — desses que não se explicam com lógica, apenas se sentem. Algo em seu corpo lhe dizia: "Não é desse mundo."
Quando passou por ele, não teve coragem de olhar diretamente. A intuição, essa forma ancestral de percepção que antecede o pensamento racional, sussurrava perigo. E ao olhar para trás, ele já não estava mais lá. Desapareceu sem deixar vestígios...
Entre a psicologia do medo e os arquétipos do invisível
Como psicólogo e estudioso do inconsciente coletivo, não posso deixar de apontar que a figura do "Homem de Branco" ressoa como um arquétipo recorrente em muitas culturas. Em algumas regiões do Brasil, o branco é a cor associada à morte, ao sagrado e ao espiritual. Nos terreiros, é a cor dos orixás ligados à paz e à passagem, como Oxalá. No catolicismo popular, o branco veste os santos e os defuntos, num paradoxo entre pureza e fim. Ao mesmo tempo, essa mesma figura pode evocar figuras como o Exu d meia-noite, o Caboclo D'água, ou mesmo o Homem do Chapéu, comum em lendas urbanas e rurais do Nordeste.
Sob uma ótica antropológica, o relato de Bárbara nos remete à sobrevivência de mitos em territórios marcados por sincretismos religiosos e medos coletivos. A pracinha, espaço público e teoricamente seguro, torna-se um palco do assombro quando o corpo está vulnerável — seja pela hora avançada, pela solidão, ou pelas sombras que os postes não alcançam.
O terror nordestino como patrimônio simbólico
Em tempos de terror pasteurizado pelas grandes indústrias do cinema, onde monstros e casas mal-assombradas seguem roteiros previsíveis, é no testemunho de pessoas como Bárbara que o verdadeiro horror ganha densidade. O horror que mora na esquina, veste branco e desaparece sem deixar rastro. Esse é o nosso terror: nordestino, popular e pulsante.
Enquanto mitólogo, recordo que toda figura fantasmagórica carrega a função de comunicar algo. A aparição pode ser lida como metáfora de um trauma coletivo, um aviso ancestral, ou um eco da própria morte — não necessariamente literal, mas simbólica. O homem de branco pode representar a transição, o limiar, o "psicopompo" que, como na mitologia grega, conduz as almas entre os mundos.
Uma lenda em gestação?
Talvez o que Bárbara viveu ainda não seja uma lenda consolidada, mas um embrião de mito urbano, pronto para circular, se multiplicar e se adaptar a outras vivências. As histórias ganham corpo na medida em que são contadas, recontadas, temidas. O homem de branco pode ser um espírito de estrada, um espectro do passado colonial, um morto que não foi velado... ou algo mais íntimo: o medo ancestral do desconhecido, vestido com as roupas do cotidiano.
Se você mora no interior de Pernambuco ou já teve alguma experiência semelhante, talvez compreenda que certas presenças não precisam fazer barulho para gritar. Basta estarem ali, paradas, silenciosas, com o rosto escondido pelo chapéu — esperando que alguém as veja, mas sem nunca se deixar ver por completo.
E você? Já viu o homem de branco?
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Porque o terror mais profundo… é aquele que acontece perto da sua casa.
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