Na cidade do Recife, onde o calor se mistura com a umidade dos manguezais e o passado colonial insiste em sussurrar nos becos históricos, o inesperado frequentemente se manifesta onde menos se espera — até mesmo nos espaços da razão. E, paradoxalmente, pode ser justamente em lugares de saber, como a universidade, que o sobrenatural se apresenta de maneira mais inquietante.
O relato que você vai ler foi enviar por um inscrito do nosso canal chamado MARTIVAL SANTOS e aconteceu em uma das instituições mais respeitadas do país: a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mais especificamente no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), um local onde se pensa o mundo, mas também onde, ao que tudo indica, o mundo invisível parece se manifestar.
O Enigma Sonoro de um Final de Tarde
Era fim de ano. O campus estava praticamente deserto — os corredores silenciosos, as salas escuras, e uma estranha calmaria envolvia tudo. Um estudante, como qualquer outro, se dirigia ao Restaurante Universitário (R.U.) para jantar. Ao passar em frente ao CFCH, ouviu algo que congelou seus passos: vozes gritavam ao longe, homens e mulheres, em um tom de fúria e conflito, como se uma violenta discussão estivesse prestes a explodir. Mas o cenário não correspondia ao som.
Movido por um impulso de curiosidade — aquele tipo de impulso que mistura razão e intuição — o estudante seguiu a origem das vozes. O clima ao redor mudou. O ar parecia mais pesado, e uma tristeza sem explicação tomou conta do ambiente. Ao se aproximar de um tapume de construção civil, que fechava uma área em obras, ele olhou por cima esperando encontrar pessoas. Em vez disso, viu apenas tijolos, brita e areia. Nenhum ser humano. Nenhum ruído. Os gritos cessaram subitamente, como se tivessem sido desligados.
Universidade: Território do Conhecimento… e do Inconsciente
Do ponto de vista psicológico, o que aconteceu pode ser interpretado sob a ótica do inconsciente coletivo, conceito junguiano que postula que certas imagens, símbolos e arquétipos são compartilhados por todos os seres humanos. O CFCH, lugar de reflexão sobre o humano, talvez concentre não apenas ideias, mas também resíduos emocionais, ecos de conflitos, dores não elaboradas, manifestações inconscientes da psique coletiva que encontram expressão em momentos de vulnerabilidade sensorial.
A antropologia também pode nos ajudar: instituições como universidades, ainda que modernas, são construídas sobre territórios históricos. Quantas histórias, disputas políticas, dores e resistências já aconteceram ali? Quantos afetos, despedidas, mortes simbólicas (ou reais), quantas vozes caladas? O som dos gritos, mesmo não localizável fisicamente, pode ser entendido como uma materialização simbólica da tensão social e histórica presente nesses espaços.
Do ponto de vista sociológico, esse tipo de manifestação pode revelar a própria contradição das instituições de ensino: lugares de liberdade e opressão, debate e silenciamento. O CFCH, em particular, tem um histórico de ativismo político e enfrentamentos ideológicos. Seria exagero pensar que tais energias ainda reverberam nos muros e corredores?
O Mito da Voz Desencarnada
Na mitologia, há registros recorrentes de “vozes sem corpo” que ecoam em determinados lugares como um aviso, uma maldição ou uma lembrança de que há algo ainda não resolvido. As erínias da mitologia grega, por exemplo, eram entidades que perseguiam os culpados com gritos incessantes — muitas vezes sem serem vistas. O relato do estudante se encaixa nesse arquétipo: um grito que vem de um espaço liminar, entre o mundo dos vivos e o mundo das memórias.
A UFPE e o Sobrenatural: Um Palco Não Tão Improvável
Embora não costume aparecer nas listas de lugares mal-assombrados do Recife, o campus da UFPE guarda histórias sussurradas entre alunos e funcionários. Muitos falam de figuras que aparecem nas bibliotecas após o expediente, ou de sensações estranhas em prédios antigos como o da Comunicação ou do próprio CFCH.
A própria disposição arquitetônica do CFCH — com escadas, passagens internas estreitas, janelas altas e corredores pouco iluminados — contribui para a formação de uma atmosfera propícia ao mistério. O som dos gritos, nesse contexto, funciona quase como um sintoma urbano, algo que revela mais do que esconde.
O Que Realmente Aconteceu?
Seria uma alucinação auditiva? Um fenômeno acústico raro? Um trauma sensorial? Ou… a repetição sobrenatural de um conflito que ali aconteceu no passado e que ainda “sangra” na estrutura do lugar?
A ciência não oferece todas as respostas. E talvez nem deva. Em locais carregados de história — e, sobretudo, de emoções coletivas intensas — a linha entre o real e o simbólico se torna tênue.
Conclusão: Quando o Invisível Fala, Resta Escutar
A experiência desse estudante nos recorda de que mesmo nas instituições mais racionais, o mistério pode se insinuar com força. A Universidade, lugar da razão, às vezes também é invadida pelo inexplicável. E isso não a enfraquece — ao contrário: a fortalece como espaço de contato entre mundos.
Afinal, como diz o filósofo Edgar Morin, “a complexidade não é um defeito do mundo, mas sua riqueza.” E os ecos invisíveis do CFCH talvez sejam apenas uma forma de nos lembrar disso.
Se você já viveu algo parecido em algum prédio universitário — ou mesmo em lugares onde a razão deveria imperar — compartilhe sua história nos comentários. O invisível, afinal, só existe porque alguém o viu.
Comentários
Postar um comentário